O que caracteriza uma UTI de qualidade?
Segundo a American Thoracic Society (ATS), a missão da UTI abrange três objetivos:
- Preservar a vida humana através da proteção e suporte a pacientes acometidos por situações críticas quer por lesão ou doença, quer por terapia médica ou cirúrgica, com qualidade percebida pelo paciente.
- Prover terapia de reabilitação especializada, a partir do momento que o paciente começa a se recuperar de sua doença crítica.
- Prover atendimento paliativo adequado, com conforto para aqueles em que a doença foi considerada incurável, evitando sofrimento em suas horas finais.
Definir qualidade não é tarefa fácil, sobretudo em UTI, pela complexidade e subjetividade envolvidas. Para tanto, é necessário aliar conceitos e conhecimentos de Medicina Intensiva, Administração, Engenharia de Produção e Marketing. De todo modo, a qualidade relaciona-se a adequação ao propósito, a ausência de defeitos e a conformidade com as especificações na prestação dos serviços em Medicina Intensiva.
Qualidade em Terapia Intensiva envolve não só o atendimento em si, com protocolos, equipe multidisciplinar comprometida, inovação, tecnologia, segurança, mas também uma gestão estratégica coerente que defina objetivos e conduza ao propósito máximo de geração de valor em saúde para todas as partes interessadas. Em 2010 Porter definiu valor em saúde como a relação entre desfecho e custo. O Institute for Healthcare Improvement atualmente define o Quádruplo Alvo (Quadruple Aim) para a geração de valor em saúde: desfecho clínico, resultado financeiro, experiência do paciente e experiência do usuário. Dentro desse conceito, maior será a geração de valor e qualidade em UTI quanto melhor for o desfecho clínico, a experiência do paciente e usuário e menores os custos diretos e indiretos relacionados ao tratamento.
Para a avaliação da qualidade da UTI é necessário a coleta e análise sistemática de dados. A Instrução Normativa Nº 4, de 24 de Fevereiro de 2010, da ANVISA, dispõe sobre indicadores para avaliação de Unidades de Terapia Intensiva, e em seu Art. 1º define que em relação aos registros de avaliação global da UTI, assim como de eventos que possam indicar necessidade de melhoria da qualidade da assistência, devem ser monitorizados, no mínimo, os seguinte indicadores:
- Taxa de mortalidade absoluta e estimada;
- Tempo de permanência na Unidade de Terapia Intensiva; III – Taxa de Reinternação em 24h;
- Densidade de incidência de Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica (PAV). V – Taxa de utilização de Ventilação Mecânica (VM).
- A ISQua (International Society for Quality in Healthcare) definiu, em 2018, um painel de critérios, quantitativos e qualitativos, que podem auxiliar na avaliação compreensiva e integrada da qualidade de uma UTI:
- Densidade de Incidência de Infecção Primária da Corrente Sanguínea (IPCS) relacionada ao Acesso Vascular Central;
- Taxa de utilização de cateter venoso central (CVC);
- Densidade de Incidência de Infecções do Trato Urinário (ITU) relacionada a cateter vesical.
A ISQua (International Society for Quality in Healthcare) definiu, em 2018, um painel de critérios, quantitativos e qualitativos, que podem auxiliar na avaliação compreensiva e integrada da qualidade de uma UTI:
- Estrutura: relação enfermeiro/paciente, presença e disponibilidade de Médico Intensivista, taxa de ocupação, compliance com a política de medicação segura.
- Processo: Inventário do clima organizacional.
- Resultado: Mortalidade padronizada, incidentes críticos reportados, eventos adversos preveníveis e óbitos, discussões de complicações na UTI, experiência dos pacientes e familiares na UTI.
A análise de dados não só ajuda a tomar decisões mais assertivas, como também diminui os erros humanos nos processos estratégicos. A UTI gerida sob a cultura “Data Driven” ou Cultura Orientada por Dados, tem muito mais chances de atingir performance superior, tanto do ponto de vista de eficácia clínica, quanto em eficiência na utilização de recursos, assim como na experiência de clientes e usuários. Segue alguns benefícios do Data Driven:
- Agilidade na tomada de decisões;
- Redução de erros humanos;
- Identificação rápida de problemas;
- Aumento da responsabilização dos membros da equipe;
- Melhorias contínuas nos processos e produtos;
- Compreensão rápida e assertiva do comportamento do cliente ou colaborador;
- Mais tempo disponível para que gestores se dediquem a criação de estratégias;
A Critical Care é especialista em gestão de UTI com foco em qualidade e performance. Para mais informações sobre o portfólio de serviços da Critical Care, acesse o site: criticalcare@criticalcare.med.br
Referências
Fair allocation of intensive care unit resources. American Thoracic Society. Am J Respir Crit Care Med. 1997 Oct;156(4 Pt 1):1282-301. doi: 10.1164/ajrccm.156.4.ats7-97. Erratum in: Am J Respir Crit Care Med 1998 Feb;157(2):671.
https://doi.org/10.1164/ajrccm.156.4.ats7-97
da Silveira Fernandes, Haggeas, Sérgio Antônio Pulzi Júnior, and Rubens Costa Filho. “Qualidade em terapia intensiva.” Rev Bras Clin Med 8 (2010):37-45. http://files.bvs.br/upload/S/1679-1010/2010/v8n1/a009.pdf
Porter, Michael E. “What is value in health care.” N Engl J Med 363.26 (2010): 2477-2481.
https://www.57357.org/app/uploads/2020/06/What-is-Value-in-Health-Care-NEJM-2010.pdf
Oerlemans AJM, de Jonge E, van der Hoeven JG, Zegers M. A systematic approach to develop a core set of parameters for boards of directors to govern quality of care in the ICU. Int J Qual Health Care. 2018 Aug 1;30(7):545-550.